NADA ACONTECE POR ACASO...


A história começou assim: no início deste blog, um dia publiquei uma crônica intitulada "Cada um carregue (somente) sua mochila". Foi uma crônica que marcou. Muitos leitores comentam até hoje sobre a metáfora. Muita gente passou a ficar mais atenta a seu processo, a não ficar carregando aquilo que não é seu. Ou seja, a não ficar se preocupando com coisas com as quais não precisa se preocupar. Não ir além de seu papel. Quando fazemos mais do que nos cabe nesta vida, acabamos deixando o outro acomodado, tiramos a oportunidade do outro cuidar de suas próprias coisas. Impedimos o outro de crescer. Como eu utilizei o exemplo do Caminho de Santiago, pesquisei na web, encontrei e publiquei uma foto de um rapaz no tal Caminho, com a sua mochila nas costas.

Pois bem! Ontem recebi um e-mail que muito me alegrou: o dono da foto, navegando na internet encontrou no meu blog a foto que ele havia tirado quando fez a Caminhada. Ele me escreveu dizendo que ficou contente pela publicação. E eu, então, fiquei mais contente ainda... que mundo pequeno! Que mundo interligado, globalizado. Trocamos alguns e-mails e eu fiquei mais feliz ainda em conhecer a história do Marcio Gaziro, que é fotógrafo e mora em São Paulo. As fotos do Marcio são lindíssimas!!! Ele consegue fotografar a alma dos caminhos e monumentos, mostrando a vida que existe em pedras e construções, coisas que só vê quem entende dessas coisas.... E, como nada, nada mesmo, acontece por acaso, na troca de e-mails ele me contou a sua história, que publico aqui.

"Bom, Dulcinéa o personagem na fotografia não sou eu e sim meu amigo Carlos; vou enviar uma foto minha para vc me conhecer.


Dulcinéa, não sei explicar muito bem o que me levou a fazer o caminho em 1998, talvez o fato de ter perdido o meu emprego ou por estar querendo viajar, me aventurar, coisas assim (quando se tem 25 anos)... na verdade eu queria ir para Machu Picchu e acabei percorrendo o Caminho (eu fui sozinho).

Foi uma experiência fantástica; pude conhecer muitas pessoas de outras culturas, ver a história ao vivo, sentir todas as emoções que uma pessoa possa sentir, me divertir muito, muito mesmo, tomar muito vinho e cerveja e viajar leve, muito leve. Quando cheguei à cidade de Santiago senti algo estranho, era como se o meu corpo tivesse chegado e completado a jornada, mas minha alma ainda estivesse por vir; levei algum tempo para assimilar essa sensação, já no Brasil.

Depois do caminho comecei a fazer tudo que tinha vontade, fotografar, escalar montanhas íngremes etc... e realizei o que era meu sonho de criança: conhecer Machu Picchu.

Em 1999 fui trabalhar no Consulado Americano, que me deu boas condições financeiras;
acredito que em junho ou julho de 2000, não me lembro bem, o caminho de Santiago começou a aparecer para mim. Explico melhor: por onde eu ia sempre eu via algo
relacionado ao caminho (livros, setas amarelas, camisetas etc) ou alguém vinha me falar do caminho, e isso aconteceu por cerca de quatro meses, e quando eu decidi realizar o caminho novamente, os sinais pararam.

Eu conheci o Carlos (o cara da foto que vc publicou) em novembro de 2000, em uma escalada que eu realizei, e ele decidiu fazer o caminho comigo. Como iria viajar com o Carlos, tive que adiantar um dia no meu embarque para a Espanha; eu iria viajar em uma sexta à noite e acabei viajando no sábado à tarde, fato que mudou minha peregrinação.

Eu e o meu amigo começamos a caminhada em uma pequena cidade de nome Saint Jean Pied de Port e chegamos em Roncesvalles; em Roncesvalles conheci uma brasileira de nome Márri, que havia acabado de chegar de Pamplona. Se o Carlos não tivesse viajado comigo, eu não teria conhecido a bela Marri, porque eu estaria um dia à frente; caminhei com a Márri durante alguns dias, nós nos apaixonamos loucamente um pelo outro e nos entregamos intensamente a esse amor.

Então, Dulcinéa, eu não caminhei pelos campos de trigo da Espanha e sim flutuei pelo caminho, assim como ela; foi a experiência mais intensa que eu vivi, era como só existíssemos eu e ela no caminho e cada um carregava a sua própria mochila. Chegamos em Santiago juntos e eu voltei primeiro para São Paulo. A separação foi muito difícil, foi o dia mais difícil da minha vida; Márri voltou para o Brasil uma semana depois e nós nos encontramos, uma semana depois, a chama do nosso amor se acendeu novamente, e passados 7 anos eu e a bela Márri continuamos juntos e essa peregrina cada dia que passa fica mais linda.

Dulcinéa, você perguntou se o caminho fez diferença em minha vida? Em 1998 ele me trouxe a liberdade; em 2001, o Amor!"



Que linda história!!!!!

Obrigada, Marcio, por compartilhá-la conosco!

Os caminhos da alma são assim mesmo... as coisas acontecem do jeito que têm que acontecer....


Foto: Marcio Gaziro no Caminho de Santiago

Comentários

  1. Que linda história! Que sincronicidade!
    Fiquei muito emocionada.
    Edméa

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  2. Oi Dulce! Muito interessante ele ter encontrado a foto no seu site!!! Uma linda história, fiquei emocionada.
    Saudades.
    Beijos
    Esdra

    ResponderExcluir
  3. Oi Dulce, sempre passo por aqui e leio alguma coisa, parece incrível, é como se eu estivesse precisando de uma palavra, uma luz e o texto do dia sempre me ajuda. Essa semana, mais calma comecei a devorar seus textos e achei essa linda história de amor, de afinidades, cumplicidades, não sei bem qual a palavra, enfim de um encontro sem pretensões mas cheio de vontade e amor. Sem interesses na bagagem do outro, ou melhor, no peso de cada mochila.
    Vivi uma experiência muito parecida com a do Márcio e confesso fui feliz no caminho, o problema sempre é a volta. Mesmo não querendo, sua bagagem começa a pesar.
    A minha história é um pouco mais complicada que a dele, parece que ambos eram descompromissados, já eu ...não.
    Mas como tudo passa nessa vida, o bom é que guardamos um lindo album de lembranças no coração.
    Obrigada por escrever e nos iluminar.
    Obrigada e parabéns também ao Márcio pelo lindo relato de amor, fiquei muito feliz em saber que pessoas se encontram, se apaixonam e se amam cada qual com o peso da sua mochila.
    beijos
    Fernanda

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