VIAJANDO SÓ!

E dá mesmo para viajar sozinha? Essa foi a pergunta que me fez a Tininha, minha amiga de infância, após ler a minha última crônica. Há alguns meses ela havia me convidado para viajarmos juntas, já que tiraria férias e o marido não poderia acompanhá-la.

Como ela, muitas mulheres sentem às vezes a necessidade e/ou o desejo de viajarem, mas acabam desistindo, pela dificuldade de viajarem só. Sempre buscam algum lugar onde se visite um amigo ou parente, pela preocupação de viajar sem companhia.

Outro dia, navegando pela internet em sites de viagens, encontrei um artigo com dicas para mulheres que desejem viajar sozinhas. Há países de tradição árabe, por exemplo, onde não é aconselhado ir sozinha, desacompanhada. Mas, no restante do mundo, é possível, sim, viajar só.

Fazia tempo que eu não viajava só. Mas outro dia, no Rio de Janeiro, encontrei a minha amiga Solange, que me acolheu em seu bem decorado apartamento de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Solange não fica em casa por falta de companhia. Depois de sua última viagem para a paradisíaca praia de Jericoacoara passou a usar uma correntinha de prata com um lindo chinelinho como pingente. "É para eu sempre me lembrar que existe esse universo paralelo". Gostei da expressão! 

Gosto dessa forma de ver a vida. Vivemos entre tantas obrigações de trabalho, e tantas demandas que a vida pós-moderna oferece-nos por um alto preço, que muitas vezes nos esquecemos que podemos nos refugiar em outras paragens fora e dentro da gente.

Para quem vê de fora, o estilo de vida, hoje denominado de "single", pode parecer solidão ou individualismo.

Muitas pessoas vivem sós por opção ou por falta de opção. Mas isso não significa e nem, necessariamente, que sejam pessoas solitárias. Muitas vezes, pessoas casadas ou que moram com outras, sentem-se solitárias.

Há uma diferença entre estar só e ser solitário. Há diferença entre ser individualista e uma pessoa em processo de individuação.

A pessoa que vive só pode, ou não, ser solitária. Sem querer fazer apologia a este ou aquele modo de viver, já que não existe modo melhor ou mais certo de viver, gosto de lembrar sempre que solidão é um estado de espírito. É solitário quem não sabe se relacionar, quem não consegue estabelecer vínculos verdadeiros, amizades sinceras e profundas. Viver só não tem nada a ver com ser solitário!

Também em relação a ser individualista. Há pessoas que, mesmo estando com outras, só pensam em si mesmas. Elas é que precisam ser priorizadas, no seu modo de ver e entender as situações. A palavra e opinião do outro não são consideradas, por essas pessoas individualistas. Numa atitude egoísta, elas pensam somente em si e não conseguem perceber nem se sensibilizar com as necessidades do outro.

Invariavelmente, são essas pessoas individualistas, egoístas, que, mesmo vivendo acompanhadas por outras, muitas vezes, sentem-se solitárias. As outras pessoas convivem com elas pelas circunstâncias, mas nem sempre por opção.

Já as pessoas em processo de individuação, são diferentes. Para a psicologia analítica, o processo de individuação leva a pessoa a se tornar cada vez mais ela mesma. Cada vez mais quem ela realmente é. 

A educação formal e familiar, nem sempre permite a livre expressão da pessoa em sua plenitude. A sociedade em geral apresenta expectativas que são endossadas e reforçadas pela família no processo educacional.

Preocupados com o futuro dos filhos, os pais, muitas vezes, direcionam, influenciam suas escolhas, que, nem sempre, seriam as escolhas mais adequadas à sua personalidade, a quem aquela criança realmente é e ao adulto que ela deveria vir a ser. Nesse processo, a vocação, não somente a profissional, mas a vocação de vida, a finalidade última de sua existência, é abafada, é atropelada, é desconsiderada.

Com o tempo, esse processo vai moldando o futuro adulto, que se conforma e acomoda, desviando-se aos poucos do seu verdadeiro caminho, de sua verdadeira vocação.

Muitos só conseguem retornar ao seu próprio caminho, ao seu próprio ser, na maturidade, quando se acelera o processo de individuação. Voltando-se para si mesmo, ouvindo seu coração, sua alma, permanecendo cada vez mais presente junto a si, junto à sua centelha divina, buscando o caminho da espiritualidade verdadeira, a re-ligação com o Ser, dessa forma, tornamo-nos cada vez mais quem realmente somos. Cada vez mais, atores de nosso próprio destino. 

Cada vez mais, realizadores de nossa vocação, cada vez mais cumprindo nossa missão perante Deus e o mundo!

Comentários

  1. Oi, Dulcinéa,
    Graça e Paz.
    Estou acessando o seu blog pela primeira vez. Confesso que ainda não tinha tido tempo, apesar de não ser só e muito menos solitário, muito ao contrário, mas por falta de tempo mesmo, como já disse. Gostei muito de como você aborda "estar só" e "ser solitário". Vou ser mais frequente, desde agora.
    Um abraço,
    Salim

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