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Mostrando postagens de novembro, 2010

A FRANCISCANA

Na fila do banheiro no aeroporto, à minha frente, estava uma freira. Eu, mesmo não sendo católica, achei que aquela seria uma freira da Ordem Franciscana. Eu já vira as fotos do santo que deu origem à ordem. Nos pés, calçava sandálias. As dela não eram daquelas, modelo da marca Franciscano. Aquela moça, vestida com um hábito marrom, um grosso cordão na cintura, com a cabeça coberta por um pesado véu da mesma cor, não calçava sandálias franciscanas. Tinha nos pés as legitimas sandálias Havaianas. Talvez São Francisco, pensei, se vivesse hoje, também escolheria as havaianas. Aquela moça, a freira franciscana, levava somente uma mochila. Uma mochila simples, de tecido, artesanal. Eu, que viajava para um fim de semana prolongado na praia, havia planejado cuidadosamente a minha bagagem. Queria levar o mínimo possível, para não ter trabalho. Já houve um tempo em que eu, mesmo para descansar, levava tanta coisa que, afinal, tinha um trabalhão para arrumar, desarrumar a mala, para despac

CORA CORALINA, UMA MULHER QUE TRAIU A TRADIÇÃO

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Escrevo estas linhas, em minha visita à cidade de Goiás, a cidade de Cora Coralina. Aninha, seu nome de família, nasceu no século XIX, numa casa à beira do Rio Vermelho. Desde menina, escrevia. Cursou apenas três anos da escola primária, e muitos anos na escola da vida. Ana, como todas as mulheres daquele tempo de antigamente, não escolhia muito se haveria ou não de casar. Era o costume seguir a vontade dos pais. No caso dela, que perdeu o pai quando  ainda era bebê, não sei como foi. Talvez o fato possa  ter sido bom para que ela fosse o que foi. Ela escreve que não se achava bonita. Mas até que, lá pelos seus vinte anos, foi viver em São Paulo, com um advogado que, por ser separado, não podia se casar. Só se casaram bem mais tarde, quando ele ficou viúvo e já tinham alguns filhos. Ana, que já gostava de ler e escrever, saiu de sua terra, traiu suas tradições. Onde já se viu uma moça daquele tempo e daquela terra, ir morar com um homem sem ter se casado... Em São Paulo, foi guer

VISITANDO GOIÁS!

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E ai eu fui visitar  "o Goiás"! Goiás Velho, como ainda se chama. A antiga capital de Goiás! Tão pertinho de Brasília... Porque não ir até lá? Pego um ônibus até Goiânia, de lá, outro para Goiás! Viajei quase um dia... Ainda perco o medo de dirigir em estradas... Chegando aqui, surpresas!!! Que cidade linda e charmosa! Casas antigas, ruas de pedra, um rio cortando a cidade! Tem muita igreja e árvores. Tem cheiro de mato! Tem gosto de gente! Agora entendo porque, depois de tantos anos, a Aninha voltou!

VIAJANDO SÓ!

E dá mesmo para viajar sozinha? Essa foi a pergunta que me fez a Tininha, minha amiga de infância, após ler a minha última crônica. Há alguns meses ela havia me convidado para viajarmos juntas, já que tiraria férias e o marido não poderia acompanhá-la. Como ela, muitas mulheres sentem às vezes a necessidade e/ou o desejo de viajarem, mas acabam desistindo, pela dificuldade de viajarem só. Sempre buscam algum lugar onde se visite um amigo ou parente, pela preocupação de viajar sem companhia. Outro dia, navegando pela internet em sites de viagens, encontrei um artigo com dicas para mulheres que desejem viajar sozinhas. Há países de tradição árabe, por exemplo, onde não é aconselhado ir sozinha, desacompanhada. Mas, no restante do mundo, é possível, sim, viajar só. Fazia tempo que eu não viajava só. Mas outro dia, no Rio de Janeiro, encontrei a minha amiga Solange, que me acolheu em seu bem decorado apartamento de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Solange não fica em casa por fal

POR VERDES MARES...

Enquanto o catamarã se afastava da costa da cidade de Salvador rumo a Morro de São Paulo, alguns passageiros disputavam um lugar na popa para fotografar e filmar a bela paisagem. Foi naquele momento em que eu me lembrei que não havia levado a minha câmera digital.  Eu havia escolhido um lugar  para admirar a bela paisagem. Eu viajava só! Eu queria estar só!  Estar só para muitos é um desafio. Conheço pessoas que não viajam por falta de companhia. Não sabem o quanto estão perdendo. Viajar só é, muitas vezes, viajar acompanhado de todo o mundo. Viajando só, viajamos para lugares desconhecidos fora e dentro da gente. Viajar só é uma oportunidade para refletir sobre si mesmo. A nau rasgava as águas do mar, que sangravam em brancas ondas espumantes. Eu viajava pelo mar e pelos meus pensamentos.  Por alguns instantes, senti pena de ter esquecido a máquina. Lembrei então que eu tinha outra forma de registrar aquele momento. Podemos fotografar com a nossa alma! Concentrei-me naquele mome

GENTE DA TERRA, GENTE DO MAR

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Eu já estava caminhando há mais de uma hora. A praia era linda e, àquela hora, deserta. Acordara cedo, o dia já clareara, o sol já aquecia e bronzeava a minha pele, clara e sensível pelo longo tempo sem tomar sol. Fazia muito tempo que eu não visitava uma praia tão gostosa! O mar era calmo! A areia grossa permitia ao mar apresentar-se límpido e transparente aos nossos pés e infinitamente azul ao horizonte. Permitia que, nas piscinas formadas pelos corais, visualizássemos, sem mergulho, lindos peixes coloridos que nos saudavam em cardumes à espera de alimento. Eu estava em Morro de São Paulo, uma praia ilhada na Bahia, pertinho de Salvador. O lugar ainda é agreste, ainda há praias desertas, quase virgens. Naquele trecho, final da quarta praia, eu já avistava o meu objetivo. Queria chegar até a quinta praia, da qual haviam me falado. Naquelas paragens sutis, avistei ao longe uma mulher que se ocupava em arrumar o seu espaço. Mais do que um espaço comercial para vender as iguarias

SAUDADES....

O dia amanheceu nublado! Um feriado diferente. Um feriado em que nada se comemora. Mas um dia de se recolher, de meditar, de refletir! Não um dia para apenas chorar pelos nossos mortos, mas um dia para relembrar a sua vida! Um dia para refletir sobre a nossa própria vida! As minhas primeiras lembranças e contato com a morte, remetem-me à casa dos meus avós, em Catanduva, no interior do estado de São Paulo. Eles moravam numa casa de esquina, na rua do cemitério. Na rua em que passava o cortejo fúnebre. Na rua em que passava o caixão e todos os familiares e amigos acompanhavam a pé. Não sei se lá ainda acontece assim, mas no meu tempo de criança, quando eu  passava as férias por lá, lembro que o costume era velar os mortos em sua própria casa. Vizinhos, parentes e amigos, todos passavam a última noite velando o morto. O verbo velar tem dois sentidos. Um, originário de véu: colocar véu, encobrir. Existem fatos velados , por exemplo. Algo que se tenta encobrir, mas que transparece, poi