LIMÃO OU LIMONADA?

Ligar a TV hoje em dia é ouvir notícias sobre os desabamentos e outras consequências de desastres naturais
.
Vemos as imagens de pessoas se afogando, de casas sendo levadas, de pessoas que morrem, de consequências de terremotos. A televisão abre as portas de nossa casa, trazendo notícias de outros que sofrem, trazendo sua angústia, seu desespero.


Fico sensibilizada, especialmente ao ouvir pessoas humildes com falas conformadas. Alguns se desesperam, mas há aqueles que dizem: “fazer o que? Estamos com vida, vamos construir tudo outra vez!”


Há momentos na vida em que nos sentimos desesperançosos!


Pode ser uma doença grave, a morte de uma pessoa querida ou uma grande perda financeira. Às vezes, a descoberta de uma traição no casamento. Ou, o que dói muito, a dor de um filho. Descobrir que um filho está fazendo uso de drogas, ou até mesmo ser chamado pela escola do filho porque ele vai mal nos estudos, é tristeza certa.

Outras vezes, o rompimento de uma relação amorosa ou a perda de um emprego também são fatores que nos desestabilizam.


Há também situações em que o mal  chega devagar: pode ser o afundamento em dívidas, ou uma doença pessoal ou familiar que vai se agravando.


Em todas essas situações, é comum, e é até esperado, que as pessoas fiquem tristes, desanimadas. Parece que colocam óculos escuros que filtram toda a sua percepção de mundo. O que antes podia ser considerado esperado e até normal, diante do quadro de desesperança, passa a ser visto como uma desgraça. Um problema influencia e potencializa negativamente todas as outras situações da vida.


Uma atitude muito comum que chega à clínica psicológica, é o sentimento de culpa. As pessoas se perguntam: o que foi que eu fiz para que acontecesse isso? Principalmente quando se trata de problemas com os filhos, é comum os pais se questionarem e acharem que têm responsabilidade pelo que está ocorrendo. Muitas vezes essa atitude é decorrente das suas próprias experiências negativas da infância.


A mensagem que foi recebida na infância é: “você fez coisas erradas, agora vai sofrer o castigo”. A lógica era: Você errou, será castigado e vai sofrer com esse castigo. Ou seja: o sofrimento foi causado pelo castigo recebido.


Facilmente invertemos e generalizamos essa percepção, traduzindo, inconscientemente, para: “todo o sofrimento é um castigo, todo o sofrimento é causado por alguma coisa errada que fizemos”.


Se tomarmos distância do sofrimento para analisar a situação, veremos que nem todo o sofrimento é decorrente de um “castigo” recebido. Muitas vezes pode ser responsabilidade (ou irresponsabilidade) de outro, ou até de toda uma comunidade, como, muitas vezes pode ser a causa de catástrofes. Uma rua inundada pode ser ocasionada por sujeira nos bueiros ou porque aquele não era um local para serem construídas casas.


Surge, então, o questionamento: de quem é a culpa? Aquelas pessoas precisavam de um local para morar, não havia políticas públicas que garantissem moradia para todos etc. Criamos uma rede que vai desembocar em algum culpado. Dessa forma encontramos à quem reclamar, podemos acionar a justiça ou participar de manifestações de protesto que, mesmo que não resolvam o problema de imediato, tem, sobre os reclamantes, um efeito catártico, alivia a angústia. A angústia de não entender a razão do sofrimento.


Nem todo o sofrimento tem uma causa específica. Nem todo o sofrimento é um castigo. Mas podemos transformá-lo numa fonte de crescimento. Não defendo a idéia de que é “bom sofrer para crescer”, pois essa atitude teria uma conotação masoquista. Ninguém deve se alegrar com o sofrimento!


Mas encontrar um sentido para a vida, ajuda a aliviar o sofrimento. A pessoa que, por exemplo,  faz de seu sofrimento um motivo para abraçar uma causa para ajudar solidariamente outras pessoas a enfrentarem suas próprias situações de sofrimento, encontra um sentido no seu próprio sofrimento. Encontra um sentido para a sua vida.


Viktor Frankl, médico e psiquiatra austríaco, criou a Logoterapia a partir do sofrimento que passou nos campos de concentração. Olhou ao redor, viu o sofrimento de tantas outras pessoas e passou a ajudá-las. Dessa forma, aliviou o seu próprio sofrimento, através do sentido que encontrou através dele.


Não sei se é possível entender o sofrimento, mas gosto de pensar que recebemos de presente da vida um quebra-cabeça sem o modelo para montá-lo. Vamos tentando encaixar as peças... No início fica difícil identificar a gravura, mas do meio para o final já é possível visualizá-la e, a partir daí, fica mais fácil completá-la. Talvez seja por isso que, com o passar do tempo, mesmo que não nos acostumemos com as situações de sofrimento, ao menos nos sentimos mais fortalecidos para enfrentá-lo. 

Elaborando as situações e aprendendo com elas, sabemos que podemos transformar aquele limão numa leve e refrescante limonada. 

Basta colocar água e adoçar!


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"O Casamento está morto. Viva o casamento! - Resenha

A LIÇAO DO BEM-TE-VI sobre a culpa e a falsa culpa