AS MINHAS COISAS ANTIGAS

Justo hoje: dia do meu aniversário!

Depois do almoço passei numa livraria. Dei de cara, não sei como, pois estava bem escondida, com uma pequena coletânea de crônicas de Rubem Braga.

Gosto de ler os cronistas antigos. Trazem o cotidiano do tempo em que viveram. Muito melhor do que estudar a insonsa história que se aprende nas escolas, ler crônicas antigas nos faz viajar no tempo e no espaço. É como se entrássemos numa capsula para viajar no tempo. Sem escolher bem a época nem a cidade que iremos visitar, caímos ali: no meio do cotidiano do autor.

Foi assim que, na primeira crônica, me deparei com os costumes do Rubem (permito-me a intimidade, já que ouso me considerar sua colega cronista). No Rio, 1959. Naquela época eu também estava por lá. Só que ainda era menina. Viajo em suas palavras, imaginando a cena que me conta.

Ele fala sobre coisas antigas... começa com um guarda-chuva. É verdade, colega Rubem! Concordo com você! O guarda-chuva, talvez pela sua vocação para enfrentar tempestades, continua firme e inabalável. Desde que me conheço por gente, ele tem sempre aquele mesmo jeito. Mas outro dia - se você estivesse vivo talvez gostasse de saber - admirei-me da mais nova invenção: o guarda-chuva automático no abrir e também no fechar! Ficou mais tecnológico o guarda-chuva, mas continua com o mesmo jeitão! Como aqueles amigos antigos que aderiram ao computador, mas ainda dizem que vão “datilografar”.

Mas o que mais gostei de saber, Rubem, foi do seu desejo de comprar uma cadeira de balanço austríaca... você escreveu que gostaria de comprar uma quando ficasse "um pouco mais velho"...

Rapidamente fiz as contas: quando escreveu essa crônica, Coisas antigas, você tinha 44 anos. Gostei de saber desse seu gosto pela tal cadeira, pois eu também – acredita? - tinha esse mesmo desejo...

A cadeira de balanço austríaca me lembra o meu tempo de criança, que foi o tempo em que você escreveu sobre ela. E foi quando eu tinha 45 anos que realizei esse meu desejo. Um dia, passando numa superquadra, logo na entrada, como é o costume por aqui, tinha um homem, restaurador de cadeiras de palhinhas, vendendo uma dessas cadeiras, usada. Sem titubear, eu comprei! Tenho a cadeira até hoje.

Acho que você gostaria de saber que ela continua do mesmo jeitinho. Linhas leves e arredondadas como o seio da mãe que embala o filho e se embala também. De palhinha, no assento e no encosto. Tem gente que gosta de usar com almofada. Eu, não! Prefiro sentar na palhinha que é fresca e igualmente macia.

Enquanto me embalo na cadeira da minha infância distante, embalo meus sonhos e lembranças.

Embalo a esperança e a decepção.

Embalo a alegria e a tristeza.

Embalo o meu coração!

Comentários

  1. Parabéns e Feliz 2010,

    "Embalar o coração em seus textos deixa minha alma em paz".

    muitos beijos, Edwiges

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