O BRASIL QUE NÃO SAI NO JORNAL NACIONAL


O convite para trabalhar na 8ª Conferência Nacional da Criança e do Adolescente chegou em cima da hora.

Estreante nesse tipo de evento, comecei a tatear para entender como era e o que acontecia por lá.


Confesso, envergonhada, que nunca havia prestado atenção nesse tipo de Conferência, que vem acontecendo a cada dois anos. Essa já é a oitava.


Fiquei surpresa quando vi a plateia repleta de delegados adolescentes.


Pareciam adolescentes normais como esses que são intitulados de "aborrecentes" pelos pais desconfortáveis com os questionamentos e comportamentos que nós, os adultos de hoje, nem ousávamos pensar.


Os jovens nascidos na década de 30, 40, chegaram aos anos 60 fazendo e propondo grandes revoluções. Foi a época hippie, dos cabelos compridos para os homens, da queima dos sutiãs para as mulheres. O advento da pílula anticoncepcional trouxe liberdade para a mulher escolher e/ou planejar a maternidade, sem abrir mão da sexualidade. Com isso, pôde ingressar com peso no mercado de trabalho. Outro grupo, o dos politizados lotavam as assembléias e movimentos estudantis.


Com a ditadura militar, a partir de 64, aqueles jovens foram perseguidos. É com dor que lembramos, lamentamos e choramos os nossos mortos e os mutilados psicologicamente pela ditadura militar.


Mas a geração dos que na década de 60 e 70 eram crianças, eu chamo de geração do medo. Aprendemos desde cedo, e eu me incluo nesse grupo, que as paredes tinham ouvidos e que lutar era suicídio. Não foi uma geração covarde. Foi uma geração amordaçada, proibida de falar de contestar, de entender o que se passava. O estudo da filosofia foi banido dos currículos escolares, substituído por lições repressoras, intituladas de «moral e cívica», ministradas, em sua maioria, por militares.



Sabíamos que haviam olheiros, os informantes do SNI. Lobos vestidos de cordeiros que se misturavam nas faculdades, nas igrejas e quaisquer grupos onde se pudessem conscientizar os jovens. Foi a grande sombra do desenvolvimento de nosso país. Uma geração que cresceu sob o medo, sob o pavor de que lhes acontecessem o que acontecia com os jovens da década de 60, 70.

Como resultado disso, em minha opinião, essa geração passou a ter valores mais individualistas, consumistas. Omissa nas escolhas e participações políticas, permitiu, através de seu voto, muitas vezes inconsciente, a vergonhosa corrupção que hoje vêm à tona.


Mas ainda há esperança! Está chegando a nova geração: filhos dos novos tempos, nascidos após a promulgação da nova Constituição. Esses, que não viveram o medo, vieram para mudar. São eles que nesta semana eu ouvi falar nas plenárias da Conferencia Nacional da Criança e do Adolescente.



Esses não se intimidam e posicionam-se de forma adulta. Mais adulta do que muito adulto!


Falam dos seus direitos e dos direitos de todos os excluídos. E falam com propriedade, com fundamentação. Os adolescentes de hoje, não mais esperneiam nem gritam. Eles falam! E sua fala é espada afiada para enfrentar o ranço autoritário que violenta a criança e o adolescente, não só fisicamente, mas, também psicologicamente, deixando marcas, muitas vezes imperceptíveis no corpo, mas castradoras na alma. Esses adolescentes de hoje, são eles que se preocupam com os adolescentes excluídos economicamente. São eles que denunciam que na área rural não tem escolas e por isso os pais levam os filhos de 5 anos para trabalhar em seu roçado. São eles que denunciam e se defendem.


Saí de lá encantada. Com um sentimento confortante que me faz acreditar que, apesar de tanta notícia ruim, ainda há esperança... não amanhã, quando essa geração se tornar adulta. Mas HOJE! Porque a mudança já está acontecendo. Hoje ela é realidade!



Assistir a tudo isso, às falas, à alegria, aos posicionamentos, me trouxe uma grande alegria!



Um antídoto contra o desânimo que surge ao assistir as notícias na TV.


Esse é um Brasil verdadeiro! Que não sai nas manchetes de jornais...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"O Casamento está morto. Viva o casamento! - Resenha

A LIÇAO DO BEM-TE-VI sobre a culpa e a falsa culpa