A RODA DE CHIMARRÃO

Não sou gaúcha! Não nasci tão lá no sul. Mas, confesso, gosto dos gaúchos e do seu jeito de ser! Gosto de ver o jeito como mantêm a tradição! Gosto do jeito que falam, sempre usando o tu.

Gosto do seu churrasco! Gosto de sua tradicional música, tocada numa boa gaita de oito baixos!

Gosto tanto dos gaúchos que já houve um dia em que desejei ter nascido lá, por aquelas plagas do Sul! Gosto tanto dos gaúchos que aprendi a tomar chimarrão!

Não sei se o que digo é certo, mas de todo lugar do Brasil, me parece, a roda de chimarão é o único ritual que não é ligado a nenhuma religião. No nordeste tem muito ritual, tem muita procissão, onde católicos devotos buscam as bênçãos dos céus; na Bahia tem o ritual do candonblé; pelo Brasil afora, tem muitos outros rituais...

Ritual é coisa do sagrado. Ritual faz a gente nunca se esquecer de fazer tudo do mesmo jeito. E aí, na repetição, cada vez que se repete, repete de um jeito melhor. Repete lembrando tudo que aconteceu nas outras vezes que se repetiu o ritual.

Ritual não deixa a gente deixar de fazer sempre daquele mesmo jeito. Não deixa dispersar. Não deixa abandonar. O ritual traz concentração. O ritual traz união!

E de todos os rituais que não são chamados de cristãos nem de outras religiões, dos que eu conheço e me lembro, a roda do chimarrão é o que me parece ser o mais cristão!

Primeiro, tem todo um jeito, segundo o que eu aprendi, de preparar a cuia. O mate tem o jeitinho certo de ser arrumado para o topete não desmanchar. A água precisa estar no ponto certo. Não pode ferver, só pode chiar...

Sentados em círculo, o ritual continua.. a cuia do mate quente passa de mão em mão. O primeiro a tomar, pelo que sei e participei, é o que, na minha visão de não gaúcha, é o "dono da cuia". É como um líder que vai enchendo a cuia e vai passando para cada um...quem recebe a cuia vai sorvendo devagar o mate quente, que aquece o corpo. Aquece a alma! Sorve no mate o calor daquela união. É a união da família! É o tempo de conversar!

Quem toma o mate, toma até o fim, até roncar. Não pode dar só uma "tragadinha". Aquela é a sua vez, na roda onde se respeita a ordem. Todos têm a sua vez, têm que esperar o outro tomar. Quem toma não pode demorar muito com a cuia na mão. Não pode se esquecer e parar para conversar. É um ritual de disciplina. Cada um precisa aprender a esperar. Cada um tem a sua vez. Todos respeitam a vez de cada um. Todos esperam a sua vez, com paciência e respeito. Quem tem a cuia, precisa respeitar o direito do outro que está a esperar.

O mate é meio amargo. Não pode adoçar. Afinal, a vida tem amarguras. Mas na união da conversa, assim como o mate perde o amargor, a vida parece ficar menos amarga também.

O mate é quente! O máximo que dá pra aguentar...e, no engolir o mate quente, o corpo frio se aquece. Aquece também a alma da gente.

É na roda de chimarrão que começa o dia gaúcho. Que se colocam em dia as conversas. E no alvorecer, junto com o sol que vem nascendo, eles vão ali, os gaúchos, esperando um dia feliz.

Ao entardecer, na hora que o sol se põe, lá estão eles de novo: na roda de chimarrão! Contam o seu dia e como foram... contam casos engraçados...contam tudo que aconteceu.

Considero a roda de chimarrão um ritual sagrado! Um ritual de união. Um ritual do amor cristão. É na roda que simboliza o infinito, onde não há começo nem fim, que se faz a troca, que se faz a entrega, que se faz o receber da mão do outro o calor do amor, o calor da união, o calor do chimarrão!

Nesta semana, vou para aquelas plagas do sul.... na bagagem levo meu livro... quero mostrar um pouco de mim.

Sei que na volta, a mala virá pesada... pois quero trazer de lá um pouco desse calor! Quero trazer a mala bem cheia desse jeito de ser.

Chimarrão rima com união. Chimarrão rima com coração!

Quero trazer comigo um pouco dessa união, um pouco desse jeito de viver na roda do chimarrão!

Comentários

  1. É bem verdade , tia . (já que te peço benção).
    Os gaúchos são pessoas calorosas , não parecem ter sofrido , ou se sofreu , algum ritual os fazem apagar , lembram das alegrias da vida e batalham ...Das grandes pessoas que tive oportunidade de conhecer e das quais me espelho , são desse lugar.
    No meu lugar , as pessoas estão acostumadas a seguir rituais , dos quais muitas vezs não dão soluções para seus problemas , mas o que se mede é a fé.A fé que torna o ritual eficaz.
    São bons aqueles rituais que parecem ser prazerosos , que nos fazem lembrar da alegria e que reforçam valores e são bons aqueles que diferencia as pessoas e suas realidades. Tornando nois todos , pessoas distintas e com uma bagagem a repassar.


    Muito Boa Viagem e Boa sorte !

    =)

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