QUE LIVRO É ESSE?


“Tem Bíblia com cantor?”

A pergunta foi feita por uma senhora que acabara de entrar na loja da Sociedade Bíblica, onde eu trabalhava. Era o ano de 1973. A loja ficava no Edifício da Bíblia, um gracioso prédio na avenida L2 norte, em Brasília.

Aquele era praticamente o meu primeiro emprego entre os 18 e 19 anos de idade. Eu gostava de receber as pessoas que iam lá comprar Bíblias e outras publicações da SBB. Eu gostava de identificar, pela forma de se vestirem, pela linguagem que utilizavam, pelo “jeito da pessoa”, qual a igreja que freqüentavam.

A senhora que perguntara sobre a “Bíblia com Cantor,” estava à procura da Bíblia em que tinha acoplado o Hinário Cantor Cristão. Provavelmente ela era da Igreja Batista, que utiliza até hoje esse hinário. Havia também aqueles que procuravam a Bíblia com Harpa Cristã. Esses se vestiam com roupas mais comportadas e as mulheres tinham o cabelo comprido. Eram da Assembléia de Deus.

Além de gostar de vender Bíblias, eu gostava de conversar com aqueles irmãos e irmãs. Gostava muito de trabalhar lá. Hoje, como psicóloga, posso avaliar que foi a empresa com o melhor “clima organizacional” em que trabalhei. Começávamos o expediente com uma devocional, dirigida pelo então Secretário Regional em Brasília, Rev. Valdir Soares.

São lembranças que alimentam a minha alma. São lembranças de um tempo importante para mim. Um tempo de muita aprendizagem profissional, além de um tempo de uma preciosa aprendizagem vivencial sobre relacionamento no trabalho e sobre o sentido de missão no trabalho.

Minha convivência com a Bíblia começou muito cedo. Desde sempre, em casa e na Escola Dominical, eu tinha acesso às histórias da Bíblia. Tenho uma foto, onde eu tinha uns dois a três anos, lendo uma revista. Hoje, com a tecnologia, escaneei e ampliei a foto. Tinha curiosidade para saber que revista era aquela que eu lia. Pude identificar o título da história: JESUS. Lembrei então da revista Nosso Amiguinho, publicada pela Igreja Adventista, que contava histórias bíblicas. Assim cresci gostando de ler a Bíblia.

Quando criança, eu lia as histórias do Antigo e do Novo Testamento. Gostava das histórias com crianças, como a de Davi e Golias e de Samuel, que ouvira a voz de Deus. Gostava da história (ou seria estória?) de Jonas na barriga da baleia. A história de Zaqueu, que subiu na árvore, e a da menina que Jesus ressuscitou. Histórias bem mais interessantes do que essas que habitam nas mentes das crianças de hoje, empanturradas de televisão. Histórias que traziam o inacreditável em que se podia acreditar.

Depois, na adolescência, na idade de florescer as primeiras paixões, gostava de ler os Cânticos, a bela poesia ao amor. Nas horas de angústias, gostava de ler os Salmos. Eram a minha “terapia”. Eu procurava um Salmo que se identificava com aquele momento que eu estava passando. Na medida em que eu ia lendo e que o salmista ia melhorando o seu estado de espírito, eu pegava uma carona e melhorava o meu também.

Mas houve uma fase em que eu comecei a ver a Bíblia com outros olhos. Com olhos críticos, “científicos”, e comecei a questionar os fatos e analisar racionalmente os relatos. Alguns eram “difíceis de engolir”.

Mais tarde, quando passei a estudar Psicologia, comecei a perceber que muitos relatos que antes eu questionara, à luz da psicologia, faziam sentido, como por exemplo as curas que Jesus fazia. A psicossomática, que estuda a relação entre as doenças psíquicas e somáticas, traz alguma contribuição a essa compreensão. Há estudos sobre a energia do corpo humano que explicam a fala de Jesus, quando Ele disse que sentiu poder saindo de si, quando a mulher que o tocou ficou curada.

Estudando a Psicologia Analítica, que aprofunda o estudo do simbólico, encantei-me ainda mais com os escritos bíblicos, passando a considerar muitas passagens que, embora eu aceitasse pela fé, no fundo as achava meio absurdas. Passei a entender o caráter simbólico de muitos textos bíblicos. Embora eu não consiga entender praticamente nada de Física Quântica, já percebo também que há explicação científica para muitos outros relatos.

Essa ainda é uma caminhada longa... Se para mim, no início, a Bíblia era um livro de fé e religião, hoje descubro que é isso e muito mais. É um livro incrível, em que, cada vez mais, descobrimos novas verdades, novos parâmetros e é incrível como foi escrito há tantos anos atrás.

No segundo domingo de dezembro comemoramos o Dia da Bíblia. Nada mais justo! Merecida homenagem ao Livro dos Livros. Não foi à toa que foi o primeiro livro a ser impresso por Gutemberg. Pelo direito das pessoas comuns de terem acesso à sua leitura foi que Lutero a traduziu, e assim, sem que tivesse a intenção, nasceu a primeira Igreja Reformada.

A Bíblia é livro de cabeceira. Nos mistérios, que são insondáveis, ela mesma se explica: “Agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido”.

Sábios são os homens e as mulheres que a lêem e meditam em suas palavras!

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