O NÃO DITO, PELO DITO

Há um velho ditado: "O dito, pelo não dito", referindo-se àquelas coisas que dizemos e depois desmentimos.

Mas há também assuntos sobre os quais precisaríamos conversar e não o fazemos.

Não gostamos de falar sobre quem somos, pois isso ameaça o nosso desejo de sermos amados. Não gostamos de falar daquilo que pode fazer o outro pensar mal da gente: aspectos que revelam o que realmente somos e que não queríamos ser.

Não gostamos de falar a verdade. Temos medo de dizer o que o outro pode não gostar. Não queremos correr o risco do outro deixar de gostar da gente.

Não gostamos de falar de assuntos que podem causar confusão. Aquilo que pode desestabilizar a falsa harmonia dos grupos. Verdades ocultas que, vindo à tona, podem trazer desconforto nos relacionamentos acomodados e acostumados a não questionarem os porquês.

Não gostamos de falar sobre tudo aquilo que nos traz tristeza. Não gostamos de falar da morte.

Não gostamos de falar sobre coisas que, pensamos, podem nos trazer azar. E, se por acaso o fazemos, batemos três vezes na madeira, para "isolar".

E assim, não gostando de falar, deixamos de nos comunicar. Deixamos de compartilhar nossas verdades, nossos desafios, nossos desejos, nossos medos, nossas dores. Achamos que o outro deveria saber o que sentimos. Achamos que ele tem bola de cristal e adivinha nossos pensamentos e sentimentos. Achamos que o outro, pelo que deixamos de falar, entende o que não queríamos ou queríamos dizer.

E assim, pensando que o outro pensa o que pensamos, pensamos que pensamento é palavra fora da gente.

Pensamento só fica na cabeça da gente e, se não falar, de nada adianta só pensar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"O Casamento está morto. Viva o casamento! - Resenha

A LIÇAO DO BEM-TE-VI sobre a culpa e a falsa culpa