BEM-ME-QUER, MAL-ME-QUER

No meu tempo de adolescência - e olha que já se vão alguns anos - nós tínhamos um costume que hoje já não sei se existe ainda. As meninas apaixonadas, querendo saber se podiam nutrir esperanças, despetalavam uma flor. Como no sistema binário que hoje determina e facilita quase toda a comunicação virtual, alternavam-se as opções: mal-me-quer, bem-me-quer. Na época em que tudo era sonho e ilusão, só interessava saber se o "moço" a queria, ou não.

Hoje os tempos mudaram. Os meios de comunicação se sofisticaram, mas o jeito de amar parece que não mudou. Ainda há falas não faladas, gestos dúbios que deixam dúvidas sobre os seus significados. Fica o não dito, pelo dito.

É a ligação que não é atendida, o e-mail indireto, o fingir que nada está acontecendo. O olhar não olhado, a palavra vazia! O diálogo mudo, dúbio, de corpos que falam o que palavras não conseguem ou não querem dizer.

E não dizem para não se comprometer, pois palavra tem força de fazer acontecer! Palavra que nos tempos de outrora era honra, agora é comunicação direta. Não deixa dúvidas, não deixa a possibilidade de voltar atrás. Não deixa oportunidade para se arrepender.

Palavra também que, mesmo deixando a força de outrora, não quer dizer e desdizer. Não quer voltar atrás, não quer dizer que, na verdade, nada se sabe sobre nada.

Quem pode adivinhar se vou gostar para sempre? Quem pode dizer que não vou me arrepender? Por isso é mais fácil não dizer. E sem dizer também não se vive o que poderia ser. Poderia ser muito bom. Poderia ser triste ou alegre. Poderia ser por um momento. Poderia ser por um dia, poderia ser para sempre.

Mas sem dizer o que se sente, também não haverá o ouvir o sentir do outro. Também não haverá elo na cadeia de trocas que podem vir a ser beijos e abraços vazios. Mas também poderiam vir a ser a cumplicidade por um tempo que não somos nós que vamos determinar.

Comentários

  1. TANTA DÚVIDA E AO INVÉS DE BEM-ME-QUER E DE MAL-ME QUER A MODA É NINGUÉM-SE-QUER.
    BEIJO PRIMA.
    ESTÁ MARAVILHOSA ESTA CRÔNICA....

    T. Rocha

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  2. Será que um dia eu aprendo a usar a estratégia que vc me deu? Pq tudo o que eu queria era realmente poder esquecer esse falo-não-digo e ser "verdadeira de verdade"!

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