VELHAS ÁRVORES

Existe uma tendência no mundo ocidental para a competitividade, para a novidade, para a renovação.

O mundo consumista nos leva a trocar as coisas velhas pelas novas. Não se pode usar um sapato velho, mesmo que seja o mais confortável. Não se pode continuar usando aquela roupa preferida, que sempre gostamos de usar, que parece até que já se moldou ao nosso corpo. Não se pode guardar aquela xícara antiga, herança da nossa avó. Tudo isso é execrado pela sociedade de consumo, que incentiva a sempre trocar o velho pelo novo, para obviamente vender novas mercadorias.

Nada contra isso, pois a movimentação do mercado leva à criação de novas oportunidades de trabalho. O problema é quando a tendência à renovação de material de consumo se estende para as pessoas, para o conhecimento, para a tradição.

Não queremos mais o velho. A palavra “velho” passou a ser palavra feia. Eu não acho: “velho”, para mim, é palavra bonita. É palavra que lembra coisa querida. É palavra que lembra carinho, conforto. É palavra que lembra experiência.

Experiência é feita de aprendizado contínuo. É não precisar reinventar a roda. É aprender com o passado, para criar a partir dali novos conhecimentos e novas experiências.

Mas com esta tendência do mundo ocidental, contaminado pela sociedade consumista, perde-se esse conhecimento adquirido. Perde-se a experiência.

Na década de 90 houve uma onda de “renovação” nas empresas. Chegou-se a criar um termo para isso: era a “reengenharia”. O mote era desconstruir as estruturas tradicionais para estabelecer novas formas. Muitos profissionais experientes foram demitidos naquela época. Pessoas na faixa dos quarenta passaram a ser considerados profissionais ultrapassados.

A moda logo mostrou o seu lado de prejuízo para as empresas. Além do enorme problema social gerado, ao demitirem seus antigos funcionários descartou-se também o que hoje é considerado um dos maiores ativos de qualquer organização: o conhecimento. A experiência, que é o conhecimento adquirido e repassado no contato uns com os outros. Experiência que não se aprende nos livros, mas se faz pessoa a pessoa.

Mesmo com a nova tendência de educação a distância, o contato pessoa a pessoa se faz nos encontros presenciais, ou mesmo nas teleconferências. Mas hoje já se sabe que não se pode esquecer o que a história nos ensinou.

Por outro lado, ficar sempre preso ao passado também não é bom. É preciso arejar as idéias, estar aberto sempre ao novo.

Gosto da excelente combinação que acontece no relacionamento entre avós e netos. É uma relação de equilíbrio, de mútua aprendizagem. Muitas vezes os netos conseguem mudar opiniões e padrões dos avós – o que os seus próprios pais, filhos de seus avós, não conseguiram.

Pular uma geração faz bem no processo de construção da experiência coletiva. É como se fizéssemos uma pausa para pensar, para respirar.

O desejo que se tem de ter netos, talvez seja para possibilitar, com a experiência, fazer diferente do que se fez com os filhos. Sabemos que nem sempre acertamos com nossos filhos e queremos acertar com os netos.

Daí se diz que os avós mimam seus netos. Os avós aprenderam que amor em excesso não estraga ninguém. O que estraga é falta de amor e falta de limite. A “regra” para a educação, se é que existem regras, é o limite necessário e muito amor.

Olavo Bilac escreveu sobre as velhas arvores, que nos dão sombra, que nos dão alimento e nos acolhem. E é nas sombras das velhas árvores que as novas sementes encontram o frescor necessário para se tornarem brotos. É na combinação da terra fértil com a força e o potencial da semente nova que nasce uma grande árvore!

Sob as árvores velhas, com as folhas que caem, o solo fica enriquecido. A sombra deixa a terra suficientemente úmida: o terreno propício para nascerem novos brotos. Sabemos o prejuízo que ocorre com desmatamentos, que empobrecem o solo e interferem em todo o clima do planeta.

Mas, “nada em excesso”, sabedoria antiga registrada no portal de Delphos. O sol, quando em excesso, seca e mata os novos brotos. O excesso de sombra não permite também o desenvolvimento dos novos brotos.

Por isso, preservemos as velhas árvores: ouçamos as pessoas mais velhas. Temos a aprender com os jovens também, cheios de entusiasmo, energia e novas idéias. Mas eles terão, em tese, mais tempo conosco.

Sábio é o jovem que ouve e respeita a experiência do velho, contextualiza para sua realidade e faz acontecer, transformando verdades antigas em preciosidades para a atualidade.

Comentários

  1. Gostei da abordagem dos netos. Apesar de ainda não tê-los, e ainda tem filhas pequenas, acho que meus netos e netas me darão uma oportunidade de tentar de novo, de acertar mais. Quanto às "coisas velhas", tem tbm o aspecto da mochila, que carrega coisas inuteis, aumentando os peso nas costas.

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