NÃO DÁ PRA COLHER ABACAXI EM BANANEIRA

Foi uma luta suada. Literalmente suada! De quimono azul, o brasileiro lutava com todas as suas forças para conquistar um lugar na final. Lutou muito, mas não conseguiu chegar lá. Eduardo Santos deu adeus ao sonho da medalha olímpica.

O que mais me chamou a atenção não foi a luta corporal do atleta. Foi a sua luta interna entre o tentar e o não conseguir agradar aos pais. Foi a reação do atleta, demonstrada em sua fala. Era uma fala inconformada, triste, onde pedia perdão aos pais por não ter conseguido conquistar a medalha.

Longe de querer analisar os motivos desse comportamento e sentimento, peço licença para utilizar esse exemplo para abordar um tema delicado: a expectativa que muitos pais têm no sucesso do filho e a necessidade correspondida dos filhos atenderem à expectativa dos pais.

Outro dia, em uma palestra sobre relacionamento entre pais e filhos, a preletora fez a pergunta: Quais os motivos de conflitos nas relações entre pais e filhos?

Fiquei pensando sobre o que eu poderia responder, enquanto os participantes rapidamente respondiam à pergunta. Pergunta de fácil resposta, para quem é pai, mãe ou filho. Quem não sabe os motivos dos conflitos entre pais e filhos? Basta recorrer à sua experiência diária...

Mas a resposta foi difícil para mim. Durante o breve tempo passaram pela minha mente as várias situações trazidas à clínica psicológica. São tantos os tipos de conflitos existentes, que foi difícil resumir, assim, naquela hora, em poucas palavras.

Assistindo ao depoimento de Eduardo Santos, fico pensando em um dos principais motivos de conflitos: a expectativa de que os filhos sejam aquilo que não fomos. Ora, cada pessoa tem características próprias e singulares. Cada qual tem uma vocação. Não dá para colher abacaxi em bananeira, nem cravos em roseiras. Não dá para apressar o tempo da colheita. Não dá para aguar demais o cactos. Mas, se a jabuticabeira não for bem regada, sabemos que não iremos nos deliciar com suas jabuticabas. Cada um tem o seu jeito de ser, possui uma vocação e precisa ser educado e tratado tendo em vista o desenvolvimento dos seus dons para frutificar no tempo certo.

Gosto de pensar que quando chegamos nesta vida, trazemos na bagagem um “kit construção”, como o daquele tipo de móveis que adquirimos para montar em casa. Está tudo ali, basta seguir as instruções. O problema é que, em nosso caso, o manual não é claro e requer sensibilidade e sabedoria para fazer das sementes recebidas a árvore a que ela veio ser.

Comentários

  1. Realmente Dulcinéia, eu como mãe já esperei, de forma errada, respostas dos meus filhos que os feriam profundamente acreditando ser o melhor para eles.
    Acho mesmo que temos que nos sintonizar mais e analisarmos melhor o comportamento dos nossos filhotes. isto sim é amar.

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