DIA DOS “PÃES”

Lembro-me de uma cena que aconteceu em minha família. Tenho dois filhos, um menino e uma menina, hoje adultos, mas quando o fato ocorreu, tinham cinco e três anos, respectivamente. Em meio às brincadeiras de criança, os dois disputavam entre si uma boneca. O brinquedo era da menina, que ganhara da avó. Não era uma boneca qualquer, era um bebê daqueles que parecem de verdade, de tamanho real.



O pai, como a grande maioria dos homens naquela época, ainda trazia as influências de um antigo modelo educacional. Não gostou muito da idéia de ver o filho "brincando de boneca" e logo advertiu: "boneca é brinquedo de menina". O garoto nem pensou muito e respondeu de imediato: "mas pai, quando eu era pequeno, você também cuidava de mim". Apesar das palavras, mesmo sem perceber, o pai passara para o filho um modelo de pai amoroso e cuidador.

Gosto destes tempos, em que os homens podem, finalmente, demonstrar todo o afeto que têm. Já vai longe o tempo do "homem não chora", "homem não faz isso ou aquilo".


Homens hoje podem cuidar dos filhos e gostam de fazê-lo. Com a mulher tendo entrado para o mercado de trabalho e sendo fundamental a sua participação na economia, tanto familiar como da Nação, não houve outra alternativa senão dividir em casa, além das responsabilidades orçamentárias, as responsabilidades de administração do lar e cuidado com os filhos. E quem ainda não aderiu a esse modelo, além de enfrentar sérios problemas de relacionamento conjugal, está demodé; não está in, está out. Para ser mais clara: “está por fora”!


Não dá mais para admitir que a mulher trabalhe fora, algumas vezes contribuindo até com a maior parte das despesas domésticas, e não tenha com quem dividir o trabalho em casa. Mais do que necessidade e obrigação, o que mais aprecio é o prazer com que os homens têm assumido essa responsabilidade, que passa a ser prazer e alegria.


Não sou teóloga, mas penso que essa história de comparar Deus com Pai foi decorrente dos tempos do patriarcado. Se fosse nos tempos do matriarcado, talvez, eu penso, Ele seria comparado com Mãe. Pensando em Deus como a figura de pai que conhecemos tradicionalmente, parece que fica faltando algo, já que Deus, sendo Amor, precisa também de uma figura feminina para representá-lo. O pai, tradicionalmente, provê e protege. A mãe, tradicionalmente, nutre e cuida. Por isso, eu penso que a Igreja Católica adotou a Nossa Senhora e a Igreja Protestante adotou a figura da Igreja como o lado feminino de Deus. Mas eu ouvi de um teólogo, certa vez, que, no original, a palavra Pai na Bíblia tem o sentido de pai e mãe. O que, para mim, faz sentido e reflete o pensamento de uma grande parcela de cristãos.


Nada mais justo e adequado, pois hoje, tempos de conciliação e equilíbrio do masculino e feminino, todos nós somos um pouco pai e mãe de nossos filhos, de nossos amigos, de nossos companheiros, de nossos pais idosos, de nós mesmos.


Os jovens, rapazes e moças de hoje, buscam seu espaço profissional, mas ambos se permitem emocionar-se, chorar, cuidar, cozinhar. Não existem mais papéis definidos e isso é muito bom!


Portanto, nesta semana, quando lembramos de demonstrar carinho pelos pais, usemos de fato o significado da palavra no plural: Pai e Mãe. Há mães que criam sozinhas os seus filhos! Há pais que merecem serem lembrados também no Dia das Mães!


Quem sabe a idéia pega... e aí teremos não só um dia, mas dois por ano, quando serão homenageados os Pais: Pai e Mãe!

Minha homenagem aos meus pais, ao pai dos meus filhos, e a todos os pais e mães, que fazem dos seus filhos, frutos do seu amor!

Comentários

  1. Dulcinea,
    A crônica emocionou-me.Lembrei dos tempos em que meu pai nos levava ao Jardim Zoológico, ao Catetinho, à Esplanada, enfim a todos aqueles lugares que, nós, no início de Brasília, tínhamos o hábito de passear. Até pescávamos lambari no Lago Paranoá!
    A idéia de mais um dia de comemoração é genial.
    O "Pães" lembra algo bem fofo, macio, que afinal podemos nos aconchegar. Mesmo quem já está longe do pai, pode se deliciar com esse aconchego que ficou na memória, mais certo na memória do coração.

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