ALMAS GEMEAS

Um dos desejos mais freqüentes e universais é a busca do encontrar a “Alma Gêmea”. Não faltam livros escritos sobre o assunto. É um desejo que está arraigado no inconsciente das pessoas.

Há pessoas que acreditam realmente que as almas percorrem várias vidas e reencontram sua alma gêmea. Até já houve uma novela com este argumento.

Mas a grande maioria, mesmo sem ter consciência, procura alguém que preencha totalmente todos os requisitos em relação aos seus gostos, preferências, costumes, crenças, raça, lazer, objetivos de vida etc.

De fato, é muito mais fácil conviver com pessoas com quem nos identificamos. Um atleta, por exemplo, teria, em princípio, dificuldades em conviver com uma pessoa que detestasse esportes. Uma pessoa muito religiosa teria dificuldades em conviver com um agnóstico. Pessoas muito apegadas a sua própria religião, se pertencerem a grupos religiosos diferentes, teriam dificuldades também de convivência em comum. Uma pessoa que não dispense semanalmente o churrasco regado a cerveja, encontraria problemas em compartilhar o restaurante preferido com seu companheiro (a) vegetariano radical. Em relação à posição política, uma pessoa de extrema esquerda encontraria obstáculos na convivência com uma pessoa de extrema direita.

Outro desejo é encontrar a “outra metade da laranja”. É aquela sensação de ser uma pessoa incompleta, que necessita completar-se com a presença e convivência de outra. É a certeza de que não somos pessoas completas e só seríamos felizes se estivermos casados com outra pessoa que nos complete.

O que existe de mito e realidade nessas buscas e sentimentos?

Este é um assunto controverso, mas proponho uma reflexão à luz da psicologia analítica.

Quando falamos em Almas Gêmeas, estamos falando em afinidades. Quando nos referimos à “outra metade da laranja”, estamos nos referindo a perfis complementares.

Jung propõe um modelo de perfil psicológico, baseado em quatro funções e duas atitudes. São as atitudes: introvertida e extrovertida. E as funções: Pensamento X Sentimento e Intuição X Sensação. Não vou entrar em detalhes sobre a tipologia de Jung. Ao leitor que desejar aprofundar-se no assunto existe bibliografia a respeito. O que desejo ressaltar é que se busca inconscientemente o seu par naquele que é diferente, naquele que tem uma atitude e funções opostas à sua. Por exemplo, Uma pessoa que seja extrovertida e cuja função principal seja sentimento, tenderá a se sentir atraída por uma pessoa introvertida, cuja função principal seja pensamento.

Com o processo de individuação, vamos desenvolvendo as funções opostas e tendemos a inverter a atitude (de introvertida para extrovertida e vice-versa). Esse processo nos faz pessoas mais completas, diminuindo a necessidade de buscar o outro como um complemento de si mesmo. Da mesma forma ocorre com os arquétipos Animus e Anima. A alma do homem, para a psicologia analítica, é feminina – anima, enquanto a alma da mulher é masculina – animus. Também com o processo de individuação, a integração de animus/anima diminui a necessidade de buscar no outro o nosso lado feminino/masculino.

Quanto à “Alma Gêmea”, que reflete o nosso desejo de estar com quem nos identificamos pelos nossos interesses, gostos e afinidades, é uma forma de buscar um/uma companheiro/a. Nossos interesses nos falam dos nossos objetivos de vida, objetivos existenciais. A religião, a posição política e os valores éticos e morais, eu incluiria nesta categoria. Na minha opinião, é importante para o casal a identificação de interesses. Os interesses nos levam à definição dos grupos sociais a que pertencemos. Geralmente as pessoas se incluem nos grupos sociais e participam das atividades sociais ligadas à religião, à profissão, ao partido político, aos grupos ativistas etc. Nada mais desagradável do que sentir-se obrigado a participar de um evento social onde não nos sentimos incluídos. Onde se conversam sobre assuntos de que não gostamos ou dos quais não entendemos.

Em relação ao lazer, eu incluiria a participação em eventos culturais, a gastronomia, o encontro com os amigos. Tudo aquilo que nos dá prazer. Tudo aquilo que eu chamaria de “brincadeira de criança grande”. Assim como, quando éramos crianças, gostávamos de brincar com quem gostava das mesmas brincadeiras, enquanto adultos gostamos de estar, nos momentos de lazer, com quem gosta das mesmas atividades de que gostamos. Nenhuma criança brinca daquilo com o que não gosta de brincar. Brincamos sem obrigação. Brincamos por brincar, porque é gostoso, porque queremos nos alegrar.

Mas acima de tudo isso, existe algo inexplicável até agora. Algo que a ciência tenta, mas não consegue explicar. Algo que simplesmente atraem duas pessoas, que se olham nos olhos e querem estar juntos. Sentem atração mútua. Sentem atração sexual. É aquilo que se diz, “uma coisa de pele, de alma”. E quando isso acontece... não importa o gênero, não importa a raça, não importa a nacionalidade, nem religião, nem partido, nem profissão, nem interesses.... Isso não dá para explicar. Não se encontra com a razão. Mas se encontra com o coração. Daí é que se diz que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”.

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