Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2008

O DIA EM QUE MEU IRMÃO SAIU DE CASA

As lembranças são meio nebulosas para mim. Lembro-me de uma cena: em meio a panfletos impressos no mimeógrafo a álcool, meu irmão mais velho, ansioso, andava de um lado para outro. Depois ele sumiu e nunca mais voltou. Voltou para Brasília, voltou para a vida fora da clandestinidade. Mas nunca mais voltou para a minha vida de adolescente. Ele era meu irmão mais velho; hoje eu sei que de velho não tinha nada. Mas para quem é irmã mais nova, oito anos mais nova, ele era como um herói. Brigava com outros rapazes, se algum mexia comigo, me levava ao cinema livre, quando os mais velhos não queriam assistir "filme de criança". Depois fiquei sabendo que ele não era só o meu herói. Ele foi herói da luta contra a ditadura. Ele foi herói do Brasil! Hoje faz quarenta anos que a UnB foi invadida! Não foi só a UnB que foi invadida. Os lares foram invadidos, a privacidade das pessoas foi invadida. A minha alma foi invadida e de lá arrancaram a alegria, a inocência e a esperança. Ficou uma

ALMAS GEMEAS

Um dos desejos mais freqüentes e universais é a busca do encontrar a “Alma Gêmea”. Não faltam livros escritos sobre o assunto. É um desejo que está arraigado no inconsciente das pessoas. Há pessoas que acreditam realmente que as almas percorrem várias vidas e reencontram sua alma gêmea. Até já houve uma novela com este argumento. Mas a grande maioria, mesmo sem ter consciência, procura alguém que preencha totalmente todos os requisitos em relação aos seus gostos, preferências, costumes, crenças, raça, lazer, objetivos de vida etc. De fato, é muito mais fácil conviver com pessoas com quem nos identificamos. Um atleta, por exemplo, teria, em princípio, dificuldades em conviver com uma pessoa que detestasse esportes. Uma pessoa muito religiosa teria dificuldades em conviver com um agnóstico. Pessoas muito apegadas a sua própria religião, se pertencerem a grupos religiosos diferentes, teriam dificuldades também de convivência em comum. Uma pessoa que não dispense semanalmente o churrasco r

CICLO JUNGUIANO DE PALESTRAS

Imagem
SETEMBRO Mesa Redonda O FENÔMENO RELIGIOSO NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA Palestrantes: Itamar R. Paulino e Moacir Rodrigues dos Santos Moderadora: Dulcinéa Ramos Cassis Data: 20.09.2008 <> 09:30-12:00 ITAMAR RODRIGUES PAULINO - LP 9601707/ DEMEC - MG - Graduado em Pedagogia - Graduado em Filosofia - Graduado em Teologia - Mestre em Filosofia MOACIR RODRIGUES DOS SANTOS - CRP 01/0220 - Especialista em Psicologia Clínica - Graduado em Teologia - Pós-graduado em Psicologia Superior - Psicoterapeuta didata pela SOBRAP - Professor de psicologia do UniCEUB OUTUBRO Tema: O DIÁLOGO MÍTICO ENTRE O ORIENTE E O OCIDENTE Palestrantes: Vitor Borges e Itamar Paulino Moderadora: Dulcinéa Ramos Cassis Data: 18.10.2008 <> 09:30-12:00 NOVEMBRO Tema: PSICOLOGIA DO ENVELHECER Palestrantes: Vera Lúcia Amaral da Silveira e Moacir Rodrigues dos Santos Moderador: Itamar Paulino Data: 22.11.2008 <> 09:30-12:00 DEZEMBRO Tema: UM OLHAR SOBRE AS IDÉIAS DE SCHOPENHAUER NA PSICOLOGI

VELHAS ÁRVORES

Existe uma tendência no mundo ocidental para a competitividade, para a novidade, para a renovação. O mundo consumista nos leva a trocar as coisas velhas pelas novas. Não se pode usar um sapato velho, mesmo que seja o mais confortável. Não se pode continuar usando aquela roupa preferida, que sempre gostamos de usar, que parece até que já se moldou ao nosso corpo. Não se pode guardar aquela xícara antiga, herança da nossa avó. Tudo isso é execrado pela sociedade de consumo, que incentiva a sempre trocar o velho pelo novo, para obviamente vender novas mercadorias. Nada contra isso, pois a movimentação do mercado leva à criação de novas oportunidades de trabalho. O problema é quando a tendência à renovação de material de consumo se estende para as pessoas, para o conhecimento, para a tradição. Não queremos mais o velho. A palavra “velho” passou a ser palavra feia. Eu não acho: “velho”, para mim, é palavra bonita. É palavra que lembra coisa querida. É palavra que lembra carinho, conforto. É

NÃO DÁ PRA COLHER ABACAXI EM BANANEIRA

Foi uma luta suada. Literalmente suada! De quimono azul, o brasileiro lutava com todas as suas forças para conquistar um lugar na final. Lutou muito, mas não conseguiu chegar lá. Eduardo Santos deu adeus ao sonho da medalha olímpica. O que mais me chamou a atenção não foi a luta corporal do atleta. Foi a sua luta interna entre o tentar e o não conseguir agradar aos pais. Foi a reação do atleta, demonstrada em sua fala. Era uma fala inconformada, triste, onde pedia perdão aos pais por não ter conseguido conquistar a medalha. Longe de querer analisar os motivos desse comportamento e sentimento, peço licença para utilizar esse exemplo para abordar um tema delicado: a expectativa que muitos pais têm no sucesso do filho e a necessidade correspondida dos filhos atenderem à expectativa dos pais. Outro dia, em uma palestra sobre relacionamento entre pais e filhos, a preletora fez a pergunta: Quais os motivos de conflitos nas relações entre pais e filhos? Fiquei pensando sobre o que eu poderia

DIA DOS “PÃES”

Imagem
Lembro-me de uma cena que aconteceu em minha família. Tenho dois filhos, um menino e uma menina, hoje adultos, mas quando o fato ocorreu, tinham cinco e três anos, respectivamente. Em meio às brincadeiras de criança, os dois disputavam entre si uma boneca. O brinquedo era da menina, que ganhara da avó. Não era uma boneca qualquer, era um bebê daqueles que parecem de verdade, de tamanho real. O pai, como a grande maioria dos homens naquela época, ainda trazia as influências de um antigo modelo educacional. Não gostou muito da idéia de ver o filho "brincando de boneca" e logo advertiu: "boneca é brinquedo de menina". O garoto nem pensou muito e respondeu de imediato: "mas pai, quando eu era pequeno, você também cuidava de mim". Apesar das palavras, mesmo sem perceber, o pai passara para o filho um modelo de pai amoroso e cuidador. Gosto destes tempos, em que os homens podem, finalmente, demonstrar todo o afeto que têm. Já vai longe o tempo do "homem nã

VERDADEIROS CAMPEÕES

Ninguém gosta de perder. O atleta não quer perder a competição. No trabalho, não queremos perder nossa posição. Não queremos que nosso candidato perca as eleições, nem que o nosso time perca o campeonato. Nos Jogos Olímpicos, não queremos que os atletas brasileiros percam as competições; na Fórmula 1, não queremos que os brasileiros percam a corrida; na Copa do Mundo, não queremos que o Brasil perca nenhuma das partidas. Ele precisa ser sempre o campeão! Desejamos que os nossos filhos tenham sucesso. Desejamos nos realizar através deles. Desejamos nos realizar através de todos os nossos ídolos; por isso não queremos que eles percam. Não queremos perder pessoas queridas, não queremos perder objetos de valor afetivo, não queremos perder dinheiro e propriedades. Todos nós, em maior ou menor grau, somos apegados. Podemos ser apegados às pessoas, aos bens materiais, às idéias, às preferências, à nossa produção artística ou intelectual, aos nossos costumes, ao nosso espaço... e aí vai a list

CICLO DE JUNGUIANO DE PALESTRAS 2008/2

Imagem
Tema: ALQUIMIA NA VISÃO DA PSICOLOGIA PROFUNDA Palestrante: Moacir Rodrigues dos Santos* Data: 16.08.2008 (sábado) 09:30-12:00 * Psicológo, Especialista em Psicologia Clínica, Graduado em Teologia, Pós-graduado em Psicologia Superior, Psicoterapeuta didata pela SOBRAP, Professor de psicologia do UniCEUB SETEMBRO Tema: O FENÔMENO RELIGIOSO NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA Palestrantes: Itamar Paulino e Moacir Rodrigues dos Santos Moderadora: Dulcinéa Ramos Cassis Data: 20.09.2008 <> 09:30-12:00 OUTUBRO Tema: O DIÁLOGO MÍTICO ENTRE O ORIENTE E O OCIDENTE Palestrantes: Vitor Borges e Itamar Paulino Moderadora: Dulcinéa Ramos Cassis Data: 18.10.2008 <> 09:30-12:00 NOVEMBRO Tema: PSICOLOGIA DO ENVELHECER Palestrantes: Vera Lúcia Amaral da Silveira e Moacir Rodrigues dos Santos Moderador: Itamar Paulino Data: 22.11.2008 <> 09:30-12:00 DEZEMBRO Tema: UM OLHAR SOBRE AS IDÉIAS DE SCHOPENHAUER NA PSICOLOGIA PROFUNDA Palestrante: Itamar Paulino Data: 06.12.2008

O MERGULHO NO ASFALTO

Imagem
Essa história, que faz parte da nossa história de Brasília, quem me contou foi meu amigo Moacir, leitor do Blog. Ao ler as crônicas que escrevi sobre Brasília, As esquinas de Brasília e O Frio de Brasília , ele lembrou daqueles tempos, quando tudo começou por aqui. Era o ano de 1958. Brasília era poeira por todos os lados, onde começavam a nascer prédios construídos com cimento à vontade, que despontavam da terra vermelha, como os primeiros dentinhos de leite de criança. O fato aconteceu no Núcleo Bandeirante, que no início era Cidade Livre. Eu, que morava na 114 sul e raramente saia de lá, ouvia falar de uma tal cidade livre e ficava imaginando como seria. Diziam que lá podia construir do jeito que quisesse e não precisava ser tudo certinho como a superquadra onde eu morava. Ninguém precisava pagar impostos, nem precisava de alvará para abrir um novo negócio. Eu ficava imaginando, quando ouvia falar, como seria morar numa "cidade livre". Eu viajava em minhas fantasias infan