NAS ASAS DO CÉU


A mãe recebeu a notícia e chorou. O filho estava doente. Muito doente. Gravemente doente. Não era o seu filho. Mas era um filho. O filho da amiga.

Ligou para a amiga, a mãe do menino doente. A mãe do menino doente estava triste. Muito triste. Pediu que rezassem. A mãe do filho sadio ficou triste, muito triste. O seu menino não estava doente, mas o menino da amiga estava.

A mãe do filho sadio reuniu outras mães para rezar. Não sabia puxar a reza. Mas outra mãe de menino sadio puxou o terço católico, acompanhada por outras mães que rezavam cada uma o seu terço. Não importava o jeito de rezar. Todas as mães rezavam pelo filho doente. Não importava de quem.

No outro dia a mãe do filho sadio recebeu a notícia: Seu filho sadio partiu. Recebeu o que pedia que não acontecesse a ninguém. Todas as mães de filhos sadios e de filhos doentes agora choram. Choram pelo filho da amiga. De tanto ouvirem as suas histórias, sentem como se fossem um pouco mães daquele filho também. Choram pela dor da amiga cujo filho partiu. Choram pelos seus próprios filhos, que temem partirem também.

Parece até que a morte, traiçoeira e vingativa, inconformada com a fé da mãe do filho sadio, quis dar o seu troco, chegando adiantada para levar o filho que não era seu.

A dor da morte do filho dilacera o útero da alma. O choro da mãe sai das entranhas. É parto a fórceps sem anestesia que arranca da alma o fruto prematuro. As lágrimas da mãe explodem pelos poros do corpo e da alma, banhando de dor todo o resto de sua vida. Respinga dor na vida das outras mães, mas que, nem de perto, conseguem imaginar o quanto dói essa dor. Dor que marca a ferro e fogo. Uma marca que fica pra sempre no coração.

Mas o socorro, ela sabe, vem do Senhor, para quem ela tanto reza e que também sofreu essa dor. Ele, curador ferido, sabe como curar essa dor.

O filho, que gostava do céu, queria logo chegar lá. Pegou carona nas asas do vento. Na pressa, esqueceu de avisar.


À minha querida amiga Amparo, e à toda a família, meu carinho, minhas lágrimas, minha dor...

Luis Pedro no último sábado, aos 28 anos, partiu de Asa Delta para o Céu... o sol de sua vida se pôs. A foto foi feita ontem, durante seu velório no crematório em Valparaíso.

Comentários

  1. Dulcinea,
    As lágrimas rolam.Acho que Deus nos faz compartilhar essa dor e dividí-la. Muito lindo o que você escreveu, choramos todas por todos os filhos.
    Beijos
    Tania

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  2. Oi Dulcinea,
    minha mãe fez questão de nos mostrar esse seu post. Ficamos todos muito emocionados e reconfortados pelas suas palavras.
    Obrigada pelo seu carinho e apoio nesse momento tão difícil!
    Um beijo,
    Ana Teresa

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