UMA PARÁBOLA SOBRE OS PARADOXOS DA VIDA CONTEMPORÃNEA

O sol brilhava naquela manhã de domingo. Nosso personagem, cansado de uma exaustiva semana de trabalho, abriu a janela deixando os raios solares aquecerem o seu rosto e sua pele, ao mesmo tempo em que a fresca brisa os acariciava.

Era um dia perfeito para ir ao clube, nadar, tomar sol, rever os amigos. Preparou-se como de costume, não esquecendo o protetor solar e seus óculos de natação. No caminho, enquanto dirigia, antecipava o prazer de pular na água fria, refrescando seu corpo e sua alma.

Mas, qual não foi sua surpresa, o clube estava fechado! Uma placa explicava o motivo: “Por decisão da direção do clube, não mais abriremos aos domingos, permitindo, assim, o justo descanso semanal de nossos funcionários”.

Indignado com tal situação e meio confuso com a paradoxal decisão, resolveu mudar seus planos: não poderia nadar, mas poderia caminhar no parque. Dirigiu até lá, da mesma forma antecipando o prazer ao imaginar como seria sua caminhada, com a brisa batendo em seu rosto, observando as árvores plantadas no caminho, ouvindo o suave canto dos pássaros... Ah! Nada como uma boa caminhada no parque em uma bela manhã de domingo!

Mas, ao chegar ao parque, também encontrou seus portões fechados. Meio confuso, sem acreditar no que estava acontecendo, leu o aviso: “Fechado nos fins de semana para limpeza”.

Mais uma vez, frustrado em seu desejo, já começava a pensar que algo estava conspirando contra ele.

Conformado, já que se aproximava a hora do almoço, decidiu então almoçar mais cedo. Iria ao seu restaurante favorito. Nas proximidades, estranhou a facilidade de achar estacionamento. Ao chegar ao restaurante, qual não foi sua surpresa: mais uma placa, desta feita explicando que o restaurante estava fechado para horário de almoço. Ficou muito bravo. “Ora vejam só... não volto mais aqui” – pensou.

Conformado com a tripla frustração, já que era meio “Pollyana” e sempre via o lado positivo das situações desfavoráveis, resolveu ir para casa, aquecer a sobra do almoço do dia anterior. Poderia dormir após o almoço, apesar de lembrar-se de que não poderia ligar o ar condicionado, pois a vizinha reclamava do barulho.

À tarde, após sua tentativa frustrada de dormir com aquele calor todo, lembrou-se que poderia ao menos ir ao cinema, para não terminar aquele domingo tão frustrado. Estava passando um filme que ele queria assistir. Chegando lá, no entanto, novamente ficou frustrado ao ler a placa: “Horário de funcionamento: Segunda a sexta-feira”.

Confuso, com a certeza agora de que algo conspirava contra ele, mas beliscando-se para ter a certeza de que tudo aquilo não passava de um pesadelo, lembrou-se dos seus tempos de criança. Do tempo em que o domingo era um sagrado dia. Dia de ir à igreja. Lembrou-se do cuidado que sua mãe tinha ao levá-lo todos os domingos à igreja. Sentiu saudade daqueles velhos tempos.

Começou a achar então que tudo o que estava passando naquele funesto domingo talvez fosse uma estratégia divina para mostrar-lhe a importância e necessidade de voltar para a Igreja. Decidido, deu meia volta e dirigiu até a igreja. Qual não foi a sua surpresa, quando chegando lá, ao invés do ritual coletivo que nos leva ao Sagrado, estava acontecendo uma reunião administrativa.

Esta parábola pode parecer absurda e longe da realidade de muitas pessoas, mas na verdade fazemos isso o tempo todo.

As organizações perdem o tempo que deveriam investir em sua atividade principal em longas reuniões para decidirem assuntos de funcionamento interno.

Os casais, ao invés de realizarem juntos atividades que lhes dêem prazer, gastam seu tempo e sua energia “discutindo a relação” e acusando-se mutuamente de sua insatisfações.

Há pessoas que matriculam os seus filhos nas melhores escolas, mesmo que elas sejam longe de casa, desperdiçando tanto tempo no trajeto, que não lhes sobra tempo para estudarem.

Esmeram-se tanto organizando e arrumando a casa para que aquele seja o local de aconchego familiar, que um simples vestuário fora de “seu lugar” é motivo para discussões e brigas.

Gasta-se tempo e dinheiro para embelezar-se, na busca de ser aceito e amado pelo outro, ao invés de investir o tempo para conversar e estar junto.

Busca-se tanto “qualidade de vida”, e gasta-se tanto tempo trabalhando demasiadamente para ganhar o dinheiro necessário para construir a casa dos sonhos, que não sobra tempo para usufruir deste espaço.

Gasta-se tanto tempo para ganhar dinheiro, que não sobra tempo para gastá-lo.

São todas decisões paradoxais, onde os meios substituem os fins.

Voltar-se para si mesmo!

Escutar o coração e a alma!

Buscar aquilo que realmente satisfaz!

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