ANTES TARDE, DO QUE NUNCA!


"Mãe! Porque você não fala nada???"

Essa expressão, de um protagonista em uma cena de psicodrama, não é só de uma pessoa. É uma fala comum nos processos de psicoterapia. No psicodrama, a partir das situações vividas no presente, as cenas antigas que marcaram a vida e, principalmente, a infância, vêm à tona, possibilitando o seu reprocessamento, de forma a não mais influenciar os sentimentos e comportamentos presentes.


Na cena especifica, o protagonista recebia um castigo do pai. A mãe, presente à cena, tornou-se ausente pela sua não interferência no processo. Omitiu-se, talvez por medo também, ao não enfrentar, ao não defender a criança. Tornou-se cúmplice da violência imposta.
São muitas as cenas que tenho presenciado na clínica. Ora são cenas de violência física, ora são cenas de violência psicológica (através de castigos desproporcionais), ora através do ignorar os apelos da criança, talvez a maior de todas as violências.


As cenas vêm à lembrança acompanhadas de muita raiva. A raiva que não pôde ser expressa pela condição de indefensibilidade da criança. Na adolescência, época propícia ao desligamento emocional, essa emoção pode vir na forma de revolta desproporcional, de adesão do adolescente aos seus grupos ou de refúgio nas drogas.


Mas há aquelas crianças que nem na adolescência conseguiram expressar a raiva decorrente da frustração vivenciada. São as crianças "boazinhas" que, através de seu comportamento, tentam agradar aos pais, buscando o amor não expressado e/ou não sentido. Estas talvez sejam as que mais carregam por sua vida os efeitos funestos da violência a que foram submetidas. Violência, cabe ressaltar, nem sempre física, mas principalmente psicológica. Estas, ao levarem para a idade adulta esse sentimento e posição existencial, tornam-se adultos dependentes da constante aprovação do outro, quer seja o cônjuge, os colegas de trabalho, a própria família de origem, e até mesmo seus filhos, buscando através do comportamento, inverso ao recebido, agradá-los a ponto de tornarem-se seus reféns.


Sempre é tempo de conscientizar-se desse processo e reformular o padrão de sentimentos consigo e com o outro. Esse processo acontece através da elaboração desse conteúdo, até então inconsciente, permitindo-se entrar em contato com a raiva reprimida e expressá-la. O psicodrama e, nas terapias verbais, a fala permitem a expressão dessa raiva sem necessariamente direcioná-la para o sujeito que a provocou ou para outras pessoas inocentes a esse processo, como é comum acontecer. Dessa forma é possível "separar-se" do outro, processo que acontece muitas vezes tardiamente.


Tenho acompanhado, na clínica, pessoas que aos 20, 30, 40, 50 e até mais de 60 anos, conseguem fazer essa separação, necessária ao processo de individuação. É necessário separar-se do outro para buscar o seu próprio caminho de desenvolvimento pessoal! Separar-se do padrão recebido, evitando a repetição de sua própria história.

Não é o ideal, mas... "antes tarde, do que nunca!"

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