“TUDO AQUILO SOU EU MESMO” - Edith Piaf - Um Hino ao Amor

“Non, Je Ne Regrette Rien
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait
Ni le mal, tout ça m'est égal”

[Não, Eu Não Lamento Nada
Não, nada de nada
Não, eu não lamento nada
Nem o bem que me fez
Nem a dor, tudo aquilo
Sou eu mesmo](1)

Com a canção Non, Je Ne Regrette Rien, Edith Piaf coroa sua carreira e sua vida. O filme PIAF – Um hino ao Amor, em pré-estréia esta semana, retrata o sofrimento e a glória da cantora francesa que teve sua vida marcada desde o início por atribulações.

Edith era filha de artistas de rua, sua mãe, cantora frustrada, abandonou-a com a avó materna para tentar carreira artística. Na época seu pai, contorcionista, havia sido convocado para a guerra. Na volta, vendo o estado lastimável da filha, leva-a à Normandia deixando-a aos cuidados da avó paterna, dona de um bordel. Edith foi adotada pelas pensionistas, que lhe deram o negado amor materno. Durante alguns anos de sua infância esteve cega, devido a uma ceratite. Sua cura é atribuída à Santa Teresa de Lisieux, cuja presença foi sentida pela cantora durante toda a sua vida. Era a mãe celeste que a protegia. Aos dez anos, novamente com o pai, que a incentiva a fazer "algo" para agradar o público da rua para ganhar trocados para sua sobrevivência, abre a boca e os pulmões entoando a Marselhesa, hino da Revolução e da França, e recebe os primeiros dos incontáveis aplausos de sua vida. (2)

Assistindo ao filme, não tenho como não voltar ao tema que mais tem surgido neste Blog, o princípio da Psicologia Arquetípica, estudada por analistas junguianos encabeçados por James Hillman: A nossa alma percorre um caminho na vida, muitas vezes de sofrimento. Desafiando as teorias psicológicas tradicionais, Hillman vê o outro lado da história onde todos os fatos contribuíram para a realização do seu propósito. Hillman cita em O código do Ser (3):

1)“Cada pessoa entra no mundo tendo sido chamada. A idéia vem de Platão, de seu 'Mito de Er' no final de sua obra mais conhecida, A República (...) A alma de cada um de nós recebe um daimon único, antes de nascer, que escolhe uma imagem ou padrão a ser vivido na terra. (...) precisamos prestar atenção na infância a fim de captar os primeiros sinais do daimon em ação, entender suas intenções e não bloqueá-lo. As demais sugestões práticas vem logo a seguir: a) reconhecer o chamado como o fato primordial da existência humana; b) alinhar a vida com esse chamado; c) ter o bom senso de perceber que acidentes, inclusive a dor no coração e os choques naturais que são herança da carne, pertencem ao padrão da imagem, lhe são necessários e ajudam a realizá-la"
2) Segundo Alfred Adler,em sua Teoria da Compensação, “desafios de doenças, defeitos de nascença, pobreza ou outras circunstâncias desfavoráveis na juventude estimulam as mais altas realizações. Todo mundo (...) compensa a fraqueza com a força, transformando deficiências em capacidade e controle".

O filme mostra uma Edith que seguia sua intuição. Ela "sabia" que seria uma grande cantora. Será que Edith Giovanna Gassion teria se tornado Edith Piaf, o pardalzinho da França, se tivesse nascido em berço de ouro, com pais que lhe dispensassem todo o cuidado e carinho?

Video de Edith Piaf cantando Non, Je Ne Regrette Rien


(1) Letra completa "Non, je ne regrette rien" (de Michel Vaucaire e Charles Dumont)
(2) Biografia de Edith Piaf
(3) Hillman, James. O Código do Ser: Uma busca do caráter e da vocação pessoal. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Veja Crítica do filme no Blog Café na Política

Comentários

  1. Dulcineia,
    Parabéns, estou gostando de ver sua produção no Blog. Tentei fazer um comentário sobre o seu texto Edith Piaff mas não consegui acessar no blog a coluna.
    Mas vamos lá:
    Em relação a seu questionamento se Edith Piaff seria um pardal em uma outra situação familiar, nada se pode afirmar. No entanto, penso que talvez, se tivesse sido mais amada e recebido afetos tão importantes na infância, teria tido "menos buracos" pela vida afora e, conseguiria desfrutar um pouco mais da vida. Na sua trajetória, há muita dor, desafetos e uma luta incessante entre a vida/morte ou seja: ao mesmo tempo que tem uma voz maravilhosa que encanta a todos e transpira vida, tem uma postura de auto-destruição, busca incessante e morte.
    Mas, c"est la vie".
    Gostei muito do filme e achei a atriz espetacular: um filme bonito e sofrido.
    Um grande abraço
    Penha

    ResponderExcluir
  2. Olá!
    Vi o filme "Edith Piaf" hoje, fiquei tão emocionada que saí procurando mais informações a respeito dela, acabei entrando aqui, no seu blog.
    Adorei este post e já estou interessado nos outros textos.
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Obrigada!A intenção do Blog é compartilhar algumas reflexões sobre a vida, sentimentos.... e nada melhor do que filmes biográficos que retratam a vida de gente como nós, que sofre, luta e vence!
    Dulcinéa

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

"O Casamento está morto. Viva o casamento! - Resenha

A LIÇAO DO BEM-TE-VI sobre a culpa e a falsa culpa