"Sê espontâneo!"

"Deus é espontaneidade. Daí o mandamento: 'Sê espontâneo'."


Esta frase consta de uma das obras de J. L. Moreno, criador do Psicodrama, "The words of de Father" (As Palavras do Pai). Este livro foi escrito, tal o postulado, título deste artigo, espontaneamente. Num momento de inspiração, Moreno escreveu nas paredes [talvez por falta de algum papel?], uma de suas principais obras.

O tema Espontaneidade, classificado por Moreno como um fator de personalidade – assim como a inteligência e a memória –, permeia e principia a sua principal contribuição para o campo das psicoterapias: o Psicodrama.

O Psicodrama nasceu espontaneamente. Ainda enquanto estudava medicina em Viena, lá pelo início do século passado, Moreno fazia alguns trabalhos com os meninos que perambulavam pelas ruas, contando-lhes estórias que eram dramatizadas [sem saber disso eu percorri na minha adolescência um caminho parecido]. Foram os primeiros teatros espontâneos, que mais tarde ganharam uma estrutura. Era uma forma de teatro, sem script, onde os atores eram apenas orientados quanto às características de seus personagens.

Aconteceu que havia uma atriz, a Bárbara, que desempenhava sempre papéis de "moça boazinha, angelical" (tipo a nossa "namoradinha do Brasil", que agora já não é tão jovem...). O George, um rapaz freqüentador do Teatro Espontâneo, apaixonou-se pela Bárbara. Depois de um certo tempo, casaram-se. Para surpresa de George, a Bárbara, em casa, não tinha nada de "boazinha". Muito pelo contrário, demonstrou seu péssimo humor e agressividade, até então contida. O George, indignado e sentindo-se lesado (como se a Bárbara fosse um artigo comprado), achando que tinha levado gato por lebre, foi reclamar com Moreno (como se ele fosse o responsável pela propaganda enganosa). Moreno teve, então, a grande idéia de sua vida: ao invés de colocar a Bárbara para fazer papéis de "boazinha", deu-lhe papéis opostos: de megera, prostituta etc. Através daquelas personagens, Bárbara pôde canalizar toda a raiva que tinha reprimido. Para surpresa e satisfação de George, na vida "real" passou a ser a doce e meiga Bárbara, por quem ele se apaixonara. Moreno descobriu, assim, o Teatro Terapêutico que deu origem ao atual Psicodrama.


Hipoteticamente, se C. G. Jung fosse convidado para fazer o processamento daquelas primeiras sessões de psicodrama, ele teria dito que Bárbara pôde entrar em contato com a sua "sombra", passando a reconhecê-la e integrá-la à sua personalidade.


Eu comecei a falar da espontaneidade e, deixando que ela fluísse, escrevi um artigo sobre a criação do Psicodrama, enriquecido por uma correlação com Jung, algo sobre o qual nunca havia antes pensado.

A espontaneidade é assim: vem da alma... Quando nos permitimos deixá-la fluir, ela vem à tona e nos traz pedras preciosas que nos falam verdades eternas.

Foi assim com Moreno, foi assim com Jung, foi assim com poetas e pessoas comuns. Foi assim comigo no início deste Blog!

Mas, ao mesmo tempo temerosa e envaidecida pela repercussão do Blog, comecei a ficar preocupada. Passei a querer agradar o leitor, passei a ficar com medo do julgamento do outro, passei a querer escrever coisas "mais sérias", mais sistematizadas, e... bloqueei o meu fluxo de espontaneidade.

Tudo isso para explicar que, ao contrário do que escrevi esta semana, volto ao meu estilo inicial: espontâneo, sem preocupação, apenas compromissado com a espontaneidade de minha alma!

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