DECRETO ACABA COM INDECISÃO DE NAMORAR

De hoje em diante no DF ninguém pode "estar ficando" com outro. Por decreto, o Governador do Distrito Federal demitiu o gerúndio do DF e, por tabela, pôs fim na indecisão dos homens e mulheres, jovens e maduros, que ao invés de assumirem um namoro, prolongam a não tão nova modalidade de relacionamento que é o "ficar".

A princípio, "ficar" significava que numa festa, por exemplo, o casal, principalmente de adolescentes, se encontrava, trocava uns beijos e uns amassos e só. Os "ficantes" tinham o direito de "ficar" com outros na mesma festa, embora as meninas que "ficavam" com outro "ficante" já ficavam vistas como meninas "ficáveis" por todos. Os meninos ficavam vistos como os poderosos, admirados pelos amigos, que conseguiam "ficar" com mais meninas. Começaram a ter as competições de quem ficava com mais meninas por noite. As meninas não fizeram por menos, viraram o jogo e foram à luta. Passaram a ser "periguetes", disputando quem atraía e "pegava" mais meninos, os seus "peguetes". Intimidados, os meninos mais tímidos passam a "arrozar": Arroz é acompanhamento de prato principal, "arrozar" é ficar acompanhando, esperando a hora de conseguir ficar com a menina.

A meu ver, essa modalidade de relacionamento, sem compromisso, a princípio, é como uma brincadeira de aprender a namorar. Como no meu tempo, em que se brincava de "pera, uva ou maçã". Uma criança ficava de olhos fechados e outro ia dizendo: é esse? apontando sucessivamente. Até que, após a escolha com quem iria acontecer, se escolhia a modalidade: Pera, era abraço, maçã, beijo no rosto e uva beijo na boca, o que na época era apenas uma bitoquinha, o atual "selinho".

Até aí, enquanto o "ficar" era um exercício da aprendizagem de escolha, era inocente, e continua sendo para muitos adolescentes. A questão é que os "adultecentes" gostaram da brincadeira e passaram também a "ficar". Só que o "ficar" do "adultescente" não fica só na festinha ou na boate, ele se prolonga na noite e termina na cama. Aliás, termina mesmo na despedida, às vezes sem nem troca de telefone.

Aí começa a angústia das mulheres. Umas preferem nem dar mais o telefone, para evitar a angústia da expectativa frustrada de não receber nem um telefonema. Esse é um tipo de relacionamento, sexo casual. Como terapeuta, mantenho uma postura amoral, sem juízo de valor. É uma escolha pessoal de cada um, a forma de relacionamento afetivo e sexual.

Mas a situação a que me refiro hoje é diferente. A tal história de "ficar" virou "estar ficando". Ou seja, o casal de ficantes passa a se encontrar outras vezes, até que resolvem assumir que estão namorando. Decisão que para muitos até merece um ritual com a troca de alianças de prata na mão direita, a aliança de namoro. Aí surge um complicador: Muitos arrastam por muito tempo o "estar ficando", criando uma confusão na cabeça, principalmente da mulher: Quando o "estar ficando" passa a ser algo mais sério? Algumas já me disseram que é quando o homem tem coragem de ir com ela ao shopping, pois é um lugar público e ele perdeu o medo de ser visto acompanhado. Mas esse critério fica invalidado, pois muitos homens, mesmo querendo assumir um suposto namoro, compreensivelmente, detestam ir com mulheres aos shoppings. Homens me relatam surpresos que, ao pararem de chamar as suas, para eles "ficantes", para sair, elas se indignaram e queriam "discutir a relação". - Que relação? perguntam eles, nós não estamos namorando!

Bom, de hoje em diante, o Governador do Distrito Federal resolveu por decreto essa questão: É proibido usar o gerúndio! OU "FICA" OU NAMORA. NÃO PODE MAIS "ESTAR FICANDO".

Por hoje é só. E, se me permite o governador, eu vou ficando por aqui!

Dulcinéa Cassis

Comentários

  1. Muito divertido. Mas para mim que tenho filhas adolescentes "ficantes", acho que vou estar ficando preocupado...

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