Um vazio dentro de mim....

Dulcinea Cassis

Parece, disse ela, que ficou um vazio dentro de mim.... falava-me do sentimento pós separação.

Depois de tantos anos de convivência, almoçar juntos, conversar, dormir juntinhos abraçados, falar de tristezas, abrir seu próprio eu, contar piadas, contar gracinhas dos filhos e falar mal da vizinha.... Falar do preço que subiu, do desaforo que ouviu, que faz tempo que não chove, quem é que aguenta esse deserto? E o marido da amiga, você viu? Ela descobriu que tinha outra....

Ele ouvia tudo calado. Era seu jeito assim. Sempre calado, escutando, e ela pensava que estava conversando. Enquanto ela falava, seu pensamento ia longe... lembrava do relatório que não tinha feito no trabalho, da ameaça de perder a função, das metas que não tinha alcançado, do infarte do seu colega, do jogo de futebol.

Você ouviu o que eu estava falando??? Ela agora falava alto, quase gritando..
- Ah!!! o que foi?
- Eu falava que o marido da fulana arrumou outra... logo ela que sempre foi tão dedicada, sempre fez tudo por ele, nunca deixou nada faltar.....as palavras dela foram sumindo no espaço novamente.
Agora ele prestou atenção. Sim, ficou pensando porque seria que o marido da fulana tinha arranjado outra....

Parece, muitas vezes, que existe um abismo entre pessoas que vivem juntas há tanto tempo. Vão se acostumando à rotina, às mesmices, às falas solitárias e escutas mudas. Quando se percebem, parecem que já moram em países diferentes, falam idiomas diferentes, suas realidades são completamente diferentes.

Lembro-me da fala de um antigo pastor de uma igreja presbiteriana, que dizia, com seu jeito engraçado de falar: "O casal, à mesa, não tem que sentar um na frente do outro, tem que sentar um ao lado do outro, que é para não olharem um para o outro, mas ambos olharem para o mesmo lugar."

Lembro-me também da fala de um terapeuta de casal, que dizia: "É importante para o casal ter alguma coisa em comum, um objetivo comum. Por um tempo pode ser os filhos, mas e quando os filhos vão embora?"

Lembro-me de um amigo que dizia: "mesmo que o casal não goste totalmente das mesmas coisas, é preciso aprender gostar um pouco do que o outro gosta. Se ele gosta muito de futebol, é importante que ao menos uma vez na vida ela vá com ele ao estádio assistir a uma partida, e mesmo que ele deteste cinema, é importante que ele vá com ela assistir os filmes que ela gosta."

Uma receita de vida, palavras da mesma sabedoria, em três abordagens diferentes!

Comentários

  1. Dulci,
    Gostei muito deste texto!
    Tenho lido os textos do blog, praticamente todos os dias. Tornei-me uma frequentadora assídua. Me fazem refletir muito sobre o humano. Inclusive compartilhei o endereço com algumas amigas.
    Um grande abraço... BEL

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